sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Num areal Imenso





Desci o passadiço, já com a madeira a roncar de tanto serviço.
O declive obrigava-me a precaver-me e agarrado à corda inchada, devido ás intempéries das marés vivas, esperava por ti para descermos até à praia.
Tentei dar-te a mão, mas ainda levava breves momentos que nos conhecíamos, por isso refreei a minha ajuda.
Sentei-me no último degrau para descalçar os sapatos de pano azul com cordões castanhos. E logo senti, o conforto da areia macia, nos meus pés gretados, de tanto descuido.
O mar estava calmíssimo e cada onda, de tão pequena, só esborrachava a espuma no meu calcanhar.
Por momentos isolei-me. Por momentos fiquei só com o mar!
Por momentos senti-te. Por momentos, olhei o teu cabelo esvoaçar.
Eu tomei a dianteira e com um gesto, indiquei que me seguisses.
Reparei que seguias os meus passos bem vincados na areia húmida e, vi que o teu pé, entrava na minha pegada.
Caminhamos largos minutos.
Olhava para trás e sentia o teu sorriso. Enquanto ficavas especada a dois passos de mim.
 Mandavas-me continuar, fazendo gestos com a mão, para que o mar não destruísse o meu caminho.
O pouco vento que se fazia sentir, colava as tuas vestes ao corpo e salientava a beleza do teu peito.
 Então, comecei a encurtar a distância. 
Um passo agora, outro passo com demora. Para sentir-te perto de mim.
Senti sem olhar para trás, que fazias o mesmo e a distância era igual.
Não te aproximavas de mim e eu carente do teu perfume natural, que me fez deslocar de tão longe para a realidade, ansiosamente aguardada.
 Nisto, o silêncio imperou e até o mar recuou.
Olhei para trás e contei vinte e duas pegadas intactas. Desta vez era eu que as pisava.
Tinhas desaparecido!
Como era possível, num areal imenso e vazio.

Sem comentários: