sábado, 21 de junho de 2014

Tenho Saudades




Ouço vozes, como um eco tão distante.
Viro-me para todos os lados e só deslumbro montes e mais montes, que abafam quem me quer falar.
Fico imóvel para melhor ouvir a voz, ou vozes. Nada!
Por fim, distingo a voz de alguém.
Será essa pérola que me foge repetidamente por entre os dedos das mãos?
Penso eu para me alegrar.
Quem dera!
Por fim chega até mim quase num murmúrio, esta voz que me diz tanto.
Sentia bem longe.
Tenho saudades, amo-te!
Do alto das montanhas, descendo de encontro às árvores densas. Com grandioso significado, rompendo ramos do tamanho do meu corpo. 
Ganhou alento com o descampado verdejante e chegou até mim balouçando no cerejal tão próximo, que é só estender a mão e saborear as redondinhas vermelhinhas.
Tenho saudades amo-te!
Entra no meu coração como sangue novo.
Renova a minha crença em vencer as ondulações do meu caminho e estampa-me um sorriso enorme que acompanho com dois pés de dança.
Tenho saudades amo-te!
Ouço neste momento vezes sem conta. Embrulhado nos lençóis às pintas minúsculas de várias cores, que me cobrem das noites frescas, bem longe dessa tua voz.
Quero estar perto!
E não ouvir. Mas sentir!
Porque sei que ao sentir, tudo pára quando a gente faz amor.

Qual amor qual Jardim





Corro a apanhar um amor
Que se deixou levar pelo temor
A cada passo dolorosamente esticado
A distância aumenta para todos os lados

São já milhas incontáveis
De pegadas em carne viva
Como se apregoa tanto por amor
Estando longe depois de demasiado calor

Separam-me dias a fio
De um sorriso e carinhoso olhar
Só me resta desenha-los
A cada movimento no ar

Finalmente sentirei o fim
Da caminhada infernal
Calquei todas as ervas daninhas
Plantarei o mais belo jardim









Caminho Abafado





Está calor no monte do túnel.
Estão 27 graus e chove com trovões á mistura.
O homem fura as entranhas, fazendo um extenso buraco que encurta as distâncias entre populações, levando o comboio como um enorme abraço a unir três regiões.
Túneis longos, com curvas que fazem indicar que não tem fim. Mas bem no fim lá está a luz do dia a abrir as suas portas de par em par.
Túneis em bruto, com fantásticos desenhos deixados pelas colossais máquinas que os esventraram constantemente. Tendo como mira o local certo. Evitando estou em querer, enormes atentados ao ambiente.
Túneis que serão lapidados como rubis, através do betão e da inteligência humana. Dando-lhe um aspeto airoso, iluminado pela luz que mudou o mundo.
Quem lá entra não se molha nem transpira pelas encostas da moleirinha.. É a frescura do verão (que agradável sensação).
Mas no inverno é humidade que até despedaça os ossos. E grossos pingos de chuva como pendulo a marcar o tempo, sem caleiros visíveis para desviar a molha.
Túneis escuros enquanto ganham forma. Só com cesto articulado se sobe ao cimo para descobrir as fendas da natureza.
Reveste-se com tela impenetrável. Termina-se com betão levado pelo carro de lado a lado.
Não á montanha que resista ao progresso para unir mais os povos.
Sejam pontes que atravessam os vales.
Sejam túneis que esburacam sem ser um mal menor.

Vivo rodeado de Montanhas




A montanha é ingreme, todo verdejante. Dá a sensação de um tapete verde, desafiando corajosos, a deixarem as marcas das botas vem vincadas no seu declive.  
No início do lado direito, passam os fios que transportam a eletricidade apoiados em enormes torres. Com o avanço da distância galgam o monte, consoante o sobe e desce do terreno.
Pelo meio atravessa uma estradita. Vejo um jipe todo terreno, rolar calmamente.
Não sei para onde se dirige, não vislumbro casebre algum.
Mais á minha esquerda, observo cavalos pastando empinados. Imagino como lhes deve custar subir a montanha. Mas a erva é tao apetitosa, supera o esforço despendido.
Espaçadamente surge uma tira de árvores, duas a par uma da outra. Sobem o monte e estendem-se ao comprido. Formando um el ao contrário.
Hei! Descobri a casa.
No meio dessas árvores bastando-me inclinar para a minha direita.
Lá está, com metade de uma árvore servindo de cobertura. Um guarda-sol gigante, cobrindo parte da casa, simples e acastanhada.
E no início, bem no começo está o túnel!
O túnel percorre a imensidão da montanha, que nem sei onde termina.
Inclinando um pouco a cabeça (já dei voltas e mais voltas á posição inicial do meu corpo), descubro a ponte que atravessa o vale e passa por cima das nossas cabeças, quando percorremos a estrada. E mais uns tempos, vai de encontro á boca do túnel.
Uma colina belíssima, cheia de verde e animais pastando como obra e graça da natureza.
Um túnel que a perfurou, fazendo nascer a estrada de braços abertos para num raio de comboio rápido, aproximar toda esta gente de três regiões num abrir e fechar de olhos.




O amor é como Deus




O amor não se grava,
Numa placa estampada.
De um cruzamento isolado,
Sem direção desejada

O amor arregala os olhos de espanto
Ao assistir ao folguedo de sucessivos encontros
Por entre quatro paredes sem vidraça
Confessa-se o amor vazio de desgraças

O amor eriça os poros do nosso corpo
Desidrata os líquidos do prazer
Refresca os lábios da união
Alarga os orifícios da paixão

O amor é como Deus
Encontra-se em toda a parte
Não necessita de rezas nem promessas
Só precisamos de encontrar a pessoa certa